quinta-feira, 14 de junho de 2007

Resenha do texto "Movimentos Sociais Latino-Americanos: Características e Potencialidades"


No texto "Movimentos Sociais Latino-Americanos: Características e Potencialidades", José Maurício Domingues lança um olhar amplo sobre a América Latina em seus últimos dez anos, a partir do aparecimento e desdobramento de diversos dos seus mais significativos movimentos sociais. Mas para isso, o autor se vê obrigado realizar uma análise histórica através da qual ele divide a modernidade latino-americana em três fases. A primeira delas é a fase liberal vigente no século XIX, na qual se acreditava que o estado deveria ter um papel secundário na economia.
A segunda fase teve início a partir do colapso do pensamento liberal, que foi substituído pelos ideais desenvolvimentistas, traduzindo-se, entre outras formas de governo, no estado de bem-estar social, ainda na primeira metade do século XX. Nesse contexto, o estado ocupava um lugar de muito maior destaque na manutenção da ordem social, transformando-se no seu principal agente.
Segundo Domingues, no ocidente, o movimento operário foi o principal movimento social dessas duas primeiras fases da modernidade e tem na teoria marxista sua principal fonte de inspiração para a maior parte das tentativas de interpretação do movimento. Em seguida, o autor faz questão de destacar a importância de outros movimentos, como o feminismo e o movimento camponês - com especial atenção para a incorporação desse último pelo movimento operário - para uma tentativa de entendimento do contexto histórico vigente.
A crise econômica que se inicia nos anos 70 e dura até os anos 90 do século passado marca o fim da segunda fase da modernidade proposta pelo autor e o início da terceira. Esta fase é caracterizada pelo triunfo do pensamento neoliberal, que, segundo Domingues, na prática, surte um efeito desastroso tanto do ponto de vista econômico, quanto sócio-político. Esse momento, entretanto, coincide com a transição dos regimes ditatoriais para os democráticos em toda a América Latina.
Dessa forma, o autor irá caracterizar a terceira fase da modernidade no subcontinente – e nesse sentido ele não deixa de considerar a crescente globalização econômica e cultural – como sendo o período de maior exposição das sociedades, agora mais complexas, a padrões globais, nos quais os indivíduos têm maior mobilidade física e identitária e os sistemas políticos oferecem maior possibilidade de participação.
É, segundo o autor, nesse contexto – isto é, com uma classe operária bem mais fragmentada e um estado enfraquecido pela política neoliberal – que ocorrerá o surgimento de novos e significativos movimentos sociais, além da renovação de outros mais antigos. Não há, no entanto, sob essa nova perspectiva, qualquer tipo de hierarquia entre eles.
José Maurício Domingues, no entanto, nos parágrafos que se seguem, mesmo parecendo contraditório, volta a atribuir papel de destaque ao movimento operário, que, segundo ele, apesar de tudo, continua a exercer o papel mais importante dentre todos os movimentos sociais da última fase da moderna América Latina. Ele destaca ainda os movimentos indígenas, os movimentos camponeses, os movimentos sociais contra o racismo, aqueles a favor dos direitos humanos e os movimentos religiosos, estes últimos ocupando agora papel fundamental nos processos sociais de mudança.
Ao final do texto, o autor propõe um esquema de vários itens que, segundo ele, devem ser observados para uma análise adequada dos movimentos sociais, são eles: direcionalidade (fins / historicidade); motivações; acesso a recursos externos; estrutura interna; nível de centramento (identidade / organização); mecanismos (redes / hierarquia) e condições sociais e ambiente interativo.
Finalizaremos, então, nossas observações sobre o texto de José Maurício Domingues destacando dele a idéia que, acreditamos, o tenha impelido a escrever o artigo e segundo a qual os movimentos sociais são o "motor da história, os introdutores de novos modos de vida, propulsores da transformação social". Nesse sentido, acreditamos que o estudo de seus desdobramentos constitui uma bela forma de se lançar um olhar crítico e amplo sobre a história.

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